segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

COMO FORAM AS ELEIÇÕES NA VENEZUELA?

O fio sobre o que a grande imprensa nunca vai noticiar a respeito do nosso país vizinho -por Thiago Ávila

Nesse domingo aconteceu a 26ª eleição desde a primeira vitória de Hugo Chávez em 1998. A Venezuela foi o país das Américas que mais realizou eleições, referendos revogatórios de mandatos e outros referendos nesse período. Você sabia disso? Entre essas 26 votações estão os chamados "referendos revogatórios", que são votações no meio do mandato de presidente onde a população avalia se ele tem atendido às expectativas e, caso não tenha e perca o referendo, são convocadas novas eleições. Um sonho ter isso no Brasil!

Dessas 26 eleições, a direita venceu em dois momentos: no referendo de 2007 sobre mudanças na constituição e nas eleições para a Assembleia Nacional de 2015 (que agora foi renovada). Curiosamente, são as duas únicas eleições que a direita e a imprensa não alegam fraude...

A direita perdeu muito apoio popular no último período, pois os efeitos das sanções e do bloqueio dos Estados Unidos promovidos pela oposição golpista e pelo autoproclamado presidente paralelo Juan Guaidó trouxeram muitos danos. Realmente há uma grave crise hoje na Venezuela. Por fracassarem seus golpes há mais de duas décadas (das mais variadas e violentas formas), mesmo a direita foi perdendo credibilidade mesmo entre seus setores internos. Hoje há um visível enfraquecimento da direita no país, que a obrigou a mudar a conduta recentemente. Setores do partido de Henrique Capriles (opositor histórico de Chávez) e grupos apoiadores de Juan Guaidó e Leopoldo López (maiores opositores de Maduro) alegaram falta de democracia interna em seus partidos e alguns até se juntaram a outros grupos eleitorais nesse pleito.

Guaidó falhou na tentativa de esvaziar politicamente as eleições. Dessa vez participaram 107 organizações eleitorais com 14,4 mil candidaturas (90% delas se declarando de direita). Mais de 5 milhões de pessoas foram às urnas, mesmo com COVID e boicote da direita golpista.

O Poder Eleitoral na Venezuela (sim, lá é considerado um poder) é muito sério e possui diversos mecanismos anti-fraude e auditorias. Eu e @safbf contamos aqui nos últimos dias o que vimos enquanto observadores internacionais nessas eleições.

Entre esses mecanismos está a identificação eletrônica biométrica, a urna eletrônica que emite um comprovante impresso (que é conferido pela pessoa e depositado por ela em uma urna de papel para auditoria), a assinatura física e a impressão digital com tinta. E aí, Brasil?

As eleições terminaram assim: Grande Pólo Patriótico: 67,6% (coalizão chavista) Alianza Democrática: 17,95% (direita) Alianza PV, DPA: 4,19% PCV: 2,73% Outros partidos: 6,79% + 3 cadeiras para o movimento indígena (que ainda vai definir no dia 09/12/2020)

O comparecimento não foi grande. A pandemia, a crise e o fato de que a direita não estava com força para ameaçar o futuro do país nas eleições fez com que muita gente optasse por não votar. Historicamente, as eleições com maior comparecimento no país são as mais polarizadas. É uma grande vitória para o chavismo recuperar a maioria absoluta da Assembleia Nacional. Dessa forma, o governo poderá implementar medidas mais intensas de combate ao bloqueio econômico dos Estados Unidos e avançar em processos de superação da grave crise que o país vive. O isolamento de Venezuela no continente começa novamente a diminuir com as vitórias presidenciais na Argentina e Bolívia, das derrotas da extrema-direita nos EUA e no Chile, além do fortalecimento das esquerdas em vários países de nosso continente. Vai ser necessária muita luta para impedir os planos de golpe ou extermínio do imperialismo e frear a sanha de guerra de Bolsonaro e Ivan Duque (Colômbia). Vencer a crise na Venezuela demanda uma radicalização dos processos de construção do Poder Popular!

Todo apoio aos movimentos sociais venezuelanos, aos coletivos de trabalhadoras, às comunas, às redes de articulação, aos projetos de serviço-social autoorganizado, às ideias de cidades-comunais e à construção de formiguinha que é tão intensa nesse país. O caminho é por aí!

Enquanto isso, no Brasil temos também a tarefa de defender a Embaixada da Venezuela que está sob ataque há mais de um ano, desde que expulsamos os milicianos golpistas. Bolsonaro e Ernesto Araújo estão atacando a equipe diplomática e os expulsando para tomar controle da Embaixada.

Defender a Embaixada venezuelana no Brasil é lutar ativamente contra o imperialismo e contra os planos bolsonaristas que podem colocar nosso continente em uma guerra aberta. É necessária a união de todas as forças progressistas nesse sentido!

Quem quiser aprofundar mais, passa lá no meu Instagram ou da @safbf que já tem algumas coisas.

Em breve também saem vídeos no YouTube nos canais Bem Vivendo e Tese Onze!