Neste livro, Ana Caroline Campagnolo traz um histórico e informações sobre o movimento feminista, resultado de sua pesquisa no assunto, entretanto, apesar da densidade que o tema pede, a leitura é clara e objetiva. A autora tem uma abordagem ofensiva, no sentido de atacar o movimento, mas com pouco esforço é possível perceber que, as informações trazidas para refutar e condenar o feminismo são fracas e nada convincentes.
Campagnolo faz a linha do tempo do feminismo mostrando as diferentes ondas do movimento em ordem cronológica. No início do movimento, o protofeminismo destacando Mary Wollstonecraft com o documento fundador do feminismo no ano de 1792 com a obra “Reinvindicação dos direitos das mulheres”. Teóricos do
assunto tendem a colocá-la como divisora de águas entre as
feministas e as protofeministas e, por isso, foi escolhida como
marco inicial dessa primeira etapa histórica indispensável para
compreender a trajetória desse movimento.
A autora traz na parte "Contestação moral-religiosa e educação pública:
germes do feminismo" que a preocupação principal de Mary dizia respeito à restrição da educação formal feminina. O raciocínio da autora é de que "Diferentemente destas (as feministas), aquela (Mary Wollstonecraft) não
desprezava - ao menos teoricamente - as virtudes cristãs da
castidade, da modéstia e da temperança", como que dizendo que no início, esta "primeira autora feminista" não defendia a libertinagem e a promiscuidade, como muitos acreditam que o feminismo faz.
Em seguida, em "O perfil das mulheres do Setecentos:
privilegiadas, não oprimidas", ela traz alguns escritos que defendem que as mulheres sempre foram poupadas e privilegiadas de viverem, trabalharem em ambientes hostis, violentos, brutos. "Todos os períodos históricos narrados demonstram
a tese do autor de que, quando existe um equilíbrio demográfico ou uma proporção normal, a numérica existência feminina é "resultado de os homens proporcionarem às mulheres as amenidades da vida civilizada". Até porque, em condições mais bárbaras,
as mulheres acabam morrendo primeiro. Se elas vivem mais hoje
é porque muita facilidade foi erguida sobre os ombros de escavadores, mineradores e construtores homens."
Como se o fato de os homens serem maioria nessas funções fosse apenas pelo motivo de privilegiar e proteger as mulheres. Sério, é esse o nível de raciocínio neste livro.
Ainda nesta parte, a autora cita a "queixa" de Mary Wotlstonecraft de que a vida das mulheres (aqui nobres e burguesas) tinham uma vida muito fácil, monótona, entediante. "Muitas mulheres proletárias, que trabalham dura
e incansavelmente, desejariam ter a vida da mulher burguesa,
sustentada pelo marido e cercada de confortos e poucas responsabilidades. Já as mulheres burguesas tiram de algum lugar a
sensação de que deveriam fazer de suas vidas algo mais produtivo, ingressando no mercado de trabalho - obviamente, não
no mesmo trabalho das mulheres proletárias."
Ela conclui dizendo que para Mary, "a questão central é: os homens estão mimando tanto essas mulheres que elas não têm
interesse nenhum pelos filósofos iluministas ou pelo exercício da razão, tornaram-se fúteis e até amantes andam por arrumar.
Basicamente, o grito da suposta primeira feminista foi: "É muita
moleza pra essas dondocas!", querendo dizer que a vida dessas mulheres casadas (nobres e burguesas, vamos lembrar) era uma maravilha, pois seus maridos davam do bom e do melhor.
A seguir, em "Combate à libertinagem sexual e elogio à modéstia", apenas se trata de Mary ser uma defensora do casamento monogâmico como o mais vantajoso para a situação da mulher como mãe e companheira de um homem. Ainda insistindo no discurso de que as feministas incentivam a vida sexual desregrada e relacionam os conceitos de liberdade e independência com a promiscuidade e a satisfação dos instintos.
Em "O papel essencial da mulher é ser mãe", Ana mostra que "Wollstonecraft jamais negou o dever feminino para com a
prole (nem o dever masculino, com a ressalva de que diferiam
em forma e função)."
"Mary Wollstonecraft, por sua vez, não percebe os afazeres
domésticos como sinal de inferioridade nem considera a esposa
e mãe inferior à mulher intelectual; pelo contrário, condena as
mulheres que cumprem seus deveres naturais com desleixo."
Essa parte termina com a autora dizendo que, o que quase na totalidade das casos conduziu as feministas mais afamadas a perderem todas as esperanças acerca da família foi a experiência
pontual de suas casas esvaziadas de amor e entupidas de violência, "como é o caso bem conhecido de Virgínia Woolf,
Betty Friedan e Gloria Steinem."
A seguir, a parte "A educação pública como instrumento
de transformação social" mostra que Wollstonecraft defendia a "escolarização
universal" e a escola como meio de reengenharia social. "Acreditavam que a ciência, a liberdade política e a democratização do ensino poderiam resolver os
problemas sociais e encaminhar a humanidade para uma era
harmônica e mais feliz."
Mas, para Ana Caroline, pelo contrário, quanto mais se expandiu o acesso à instrução formal, mais as mulheres (e homens) se tornaram libertinas. imorais, pouco virtuosos e abortistas. "Esse conjunto de imoralidades que a mulher de hoje coleciona é exatamente o oposto do que Wollstonecraft defendia e esperava como consequência da universalização do ensino."
A melhor parte é em "A fraude da educação mista igualitária", onde Ana Caroline diz que "a educação pública e mista como a conhecemos jamais cumpriu suas promessas de progresso e igualdade. Estudar mais ou estudar com os meninos não mudou a essência feminina quanto às preferências de trabalho e pesquisa."
Como argumentos, Ana Caroline começa na Antiguidade. "A instrução pública obrigatória era realidade em Esparta, por exemplo, e lá a finalidade era militar e o método, violento. Frequentar uma escola pode ser muito atrativo às meninas de hoje, mas não o era quando os mestres podiam punir fisicamente os alunos, humilhá-los com naturalidade ou incluir "fome e frio no currículo. Nesses tempos de sombria educação, as meninas eram, na pior das hipóteses, privilegiadas e, na melhor delas, totalmente poupadas."
Ela continua dizendo: "Com a inserção feminina nos centros educacionais foi que os ambientes se tornaram
mais amenos. Justamente por causa das moças é que as coisas
tendem a se tornar mais tranquilas: para não causar muitos
traumas. Essa é uma condição de indiscutível privilégio."
Veja, de novo, o nível de raciocício de Ana Caroline: "Outrols exemplos deixam o cenário mais claro: durante muito tempo, a passagem das moças pelos cursos de ciências e matemática foi facilitada na América do Norte. Quando, finalmente, no início do século XX, os centros de ensino resolveram igualar
o grau de dificuldade independente do sexo - igualdade é isso,
não é? - as moças começaram a abandonar esses cursos. Uma tabela comparativa apresentada pelos pesquisadores Tyack e
Hansot em uma investigação sobre a educação nas escolas
públicas americanas demonstraram que, em 1916, os homens
voltaram a ser maioria na área em questão: eles eram 93% dos
formados em cursos científicos (p.ex.: exatas). Em 1928, menos
de 1% das mulheres escolhia esse mesmo curso."
Como se o motivo desses números fosse APENAS de que as mulheres acham essas áreas difíceis e não se interessam! Sério?!
"As mulheres escolhem humanidades e ciências sociais porque essas áreas são, em princípio, consideradas fáceis. Conforme a dificuldade aumenta, com freqüência elas desistem, se não durante o curso, mais tarde ao tentar prosseguir na vida acadêmica. As restantes tendem a entrar em guetos femininos, como faculdades comunitárias, estudos de gênero e outros departamentos em que as mulheres são maioria entre os funcionários e os alunos [ ... ]. A incapacidade ou a falta de disposição das mulheres de competir com os homens pode explicar por que, mesmo nas cinco faculdades norte americanas totalmente femininas, a maioria dos professores é do sexo masculino."
O blábláblá continua: "é preciso reconhecer os fatos que sinalizam as diferenças de tendência e preferência entre homens e mulheres também no campo educacional. E igualmente indispensável admitir que as meninas jamais foram submetidas à mesma rigidez educacional dos rapazes especificamente porque eram protegidas e privilegiadas e não "oprimidas"."
E Ana Caroline termina esta parte com alguns dados defendendo escolas single-sex, exclusivas para meninos ou exclusivas para meninas, ou que tem turmas separadas por sexo. E ela ainda induz que as mulheres se vitimizam quando são minoria em algum curso ou área do conhecimento e se vangloriam quando estão com alguma vantagem.
O primeiro capítulo continua com a parte "Os interesses e o comportamento
distinto dos sexos são consequências da educação: raízes da ideologia de gênero". Em resumo, aqui Ana Caroline quer mostrar as tendências naturais das mulheres.
"Mary não suportava a futilidade feminina. Ela acreditava que se houvesse drástica mudança no que se exige das mulheres no plano educacional, então, poderíamos saber com clareza quais são as tendências naturais da mulher e quais lhes são impostas.
Essa hipótese foi desbancada. Com o advento do séc. XXI, o que podemos notar é que, depois de tantas revoluções sociais, depois de tantos direitos conquistados e de tanto pareamento educacional e legal, as mulheres continuam investindo no que Mary chamava de "perda de tempo".
Aqui, Ana Caroline traz dados sobre o quanto as mulheres gastam com produtos de beleza, cabelereiro roupas, calçados etc, o quanto o número de cirurgias plásticas cresceu muito nos últimos anos, como se o motivo fosse APENAS o gosto das mulheres por essas coisas.
É completamente ignorado o número de propagandas, campanhas publicitárias que levam em conta um padrão estético inatingível e a pressão para as mulheres estarem dentro de uma imagem exigida pela sociedade, que deve estar sempre arrumada, com determinadas roupas, maquiagem, unhas feitas, um corpo "em forma".
Aqui se encerra o primeiro capítulo. Depois continuo o post comentando o conteúdo dos próximos capítulos.
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