O professor Wilton Marques, do Departamento de Letras da UFSCar, descobriu um poema escrito por Machado de Assis aos 17 anos. O poema "O grito do Ipiranga" foi publicado no jornal Correio Mercantil, mas não havia sido coligido pelos estudiosos da obra poética machadiana. Ou seja, é um poema esquecido e inédito. A descoberta do texto, datado de 7 de setembro de 1856, foi decorrente da atual pesquisa desenvolvida pelo docente, que busca identificar a influência dos autores românticos na formação de Machado de Assis e, de modo especial, na análise de seus primeiros poemas.
Neste momento da pesquisa, Marques faz uma levantando dos textos produzidos por Machado entre 1854 (ano de seu aparecimento na literatura) até 1858-1860 (período em que ele começou a trabalhar como jornalista). “Fui pesquisar os poemas publicados no jornal Correio Mercantil e que, segundo a crítica, teriam sido publicados somente a partir de outubro de 1858. Resolvi não apenas checar as fontes dos poemas como também ampliar um pouco a pesquisa para os anos anteriores. Foi assim que o poema, publicado em 9 de setembro de 1856, acabou aparecendo na história”, conta o pesquisador.
Ele explica que o poema "O grito do Ipiranga", como o nome já sugere, é uma obra de louvação ao país e, mais notadamente, a D. Pedro I, que no texto é comparado a Napoleão Bonaparte. O poema é composto por 76 versos decassilábicos, distribuídos por nove estrofes irregulares.
De acordo com Marques, a descoberta do poema, de imediato, implica ao menos em dois aspectos fundamentais para os estudos sobre a vida e a obra de Machado de Assis. “Primeiramente, traz novas informações de aspectos biográficos do autor, ou seja, como um jovem escritor, negro e com uma educação não formal conseguiu se inserir socialmente num jornal importante do Rio de Janeiro. Esse período da vida do escritor é muito carente de informações biográficas e o poema em si traz essa novidade”.
Além disso, o poema apresenta traços inéditos na produção literária de Machado. “A despeito de o poema ser de juventude (Machado tinha apenas 17 anos), ele traz em si várias marcas românticas, sobretudo na representação de aspectos ligados à realidade local (natureza, oceano etc) como marcas de nacionalidade literária, o que, em termos machadianos, também é uma novidade literária”, explica Marques.
Wilton José Marques é docente da UFSCar desde 2004. Atualmente coordena o Programa de Pós-graduação em Estudos de Literatura da Universidade. Desde 2013, desenvolve a pesquisa “Machado de Assis: poeta” que estuda a produção poética machadiana em sua totalidade, ou seja, não apenas os livros efetivamente publicados, “Crisálidas” (1864), “Falenas” (1870), “Americanas” (1875) e “Ocidentais” (1901), como também os poemas dispersos em jornais e revistas. Nesse sentido, o maior objetivo é o de tentar esboçar um quadro geral do desenvolvimento poético de Machado de Assis. Em 2011, recebeu o prêmio Jabuti na categoria Crítica e Teoria Literária pelo livro "Gonçalves Dias: o poeta na contramão" (EdUFSCar, 2010) e, em 2014, publicou o livro “O poeta do lá” (EdUSCar).
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